quinta-feira, 30 de julho de 2009

Portuguesas minhas cartas de amor

De que serveria minha vida sem minha língua? Sem minhas cartas de amor? Meus bilhetes, meus recados, minhas notas? O meu qualquer breve pensamento, chingamento, organização de palavras com sujeito e predicado. Hoje acabei de perceber que amo sobre tudo minha língua. Mesmo o françês que tanto me soa e sucede tão bem como la vie en rose e melodias mais, desdobras de Piaf, de tantas outras. Nem o inglês curto, prático e universal de Shakespeare são páreos. Porque é com o Português de Camões, de José Saramago, Chico Buarque, e Clarice Lispector que encontro e reencontro desde os dez, os nove, os três, sei lá quando. É sem querer que levarei arrastado meu sotaque de baiano, que será para sempre o cheiro de minhas páginas, e porquê não de minha alma? Desde quando aprendi a falar mamãe, que virou mainha, já era meu para sempre o que aprendi, a partir dali qualquer outro código linguístico seria O SEGUNDO, terceiro, não mais o primeiro. E não haverá língua alguma que me tire filho da pátria, portuguesa. E que não me faça comparar a minha, qualquer outra forma de me comunicar. Inclusive, se pinto, desenho, escrevo palavras em portugês sobre uma cena, com cores ou preto e branco, em formatos inteligíveis. Será uma carta escrita em português com palavras suprimidas em formatos novos.
Percebi com elementos externos, afetado por substancias dopantes que amo minha língua. É o português o qual me expresso, o qual me faz terrivelmente armazenar no tempo em que vivo minhas expressões, meus sentimentos, tudo enfim. Tudo aquilo que me pode ser mais claro e perfeito, porquê o português é minha terra, é minha pátria.
Captei isso de um modo um tanto quando bizarro, eu num banheiro molhado, cheio de gente, não consegui escutar calado um caso de pronome reto como objeto. Eu simplesmente gritei Ei, escuta, pronome reto, não pode ser objeto. E dei todas as coordenadas e subordinadas ali mesmo em pé mesmo, na fila. Falava alto, devido o álcool tão deturpante. Vi-me tão certo sobre o dê-me um cigarro, do tão falado Me dê dá um cigarro. E achei tão brilhante, porque estava bêbado, estava certo, estava ali em pé usando minhas roupas, meus sapatos, sorrindo, com um copo na mão, falando de uma coisa que tanto amo, falando para não sei quem de uma fila desconhecida, a lição de minha tão amada língua. E espero eu, tão urgente, gritada, cantada, surpreendida, que se a lição não ficar, certamente ficará, pelo menos, a lembrança de que alguém sabe essa lição.
Esse monstro inofensivo, que nos rodeia em tempo integral, em todos os pensamentos silenciosos ou não se tornão tão nossos, mais tão nossos no âmago que se torna tão natural e imperceptível usá-lo, vivê-lo, sê-lo.

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